Memória e Celebração

“Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lm 3:21)
Em 1991, mulheres de diferentes países, reunidas pelo Centro de Liderança
Global de Mulheres, dos Estados Unidos, iniciaram a Campanha “16 dias de
ativismo pelo fim da violência contra a mulher”, com o objetivo de promover o
debate e denunciar as várias formas de violência contra as mulheres em todo o
mundo. A data escolhida para a Campanha foi bastante simbólica, uma vez que
começa em 25 de novembro – O Dia Internacional da Não Violência Contra as
Mulheres – e finaliza no dia 10 de dezembro, no dia Internacional dos Direitos
Humanos. Desta forma, é feita uma vinculação entre a luta pela não violência
contra as mulheres e a defesa dos direitos humanos.
Nesse sentido os “16 Dias de Ativismo” são tanto memória, quanto celebração.
Memória porque nos faz lembrar as mulheres do passado que lutaram e deram
suas vidas por nós, pois sem elas ainda estaríamos no silêncio dos corredores
escuros, opacos e sem vida. Essas mulheres tinham diferentes rostos e nomes,
cores e classes sociais. Elas são como nossas avós, tias e mães, cuidando de nós
e encorajando-nos com seus olhos atentos para ver se estamos a caminho de um
mundo mais equitativo, mais digno, mais acolhedor e mais humano.
Os “16 Dias de Ativismo” são também motivo de celebração porque a vida
dessas mulheres incentiva uma caminhada que acaba de começar e que precisa
ter continuidade. A caminhada não terminada agora, ela segue. Subsistir não é
fácil. Diz o ditado que existem mil razões para não fazer alguma coisa e apenas
uma para fazer. Isto é, quando queremos alguma coisa, não precisamos de
muitas justificativas para isso. Um só motivo basta. Precisamos seguir adiante,
lembrando que a violência contra as mulheres é também violência política e uma
questão social, econômica, religiosa e cultural da dominação dos homens sobre
as mulheres.
É necessário falar sobre esta questão, trazer a memória, não perdê-la de vista.
Por esta razão, como mulheres, devemos unir-nos para continuar a elevar nossas
vozes contra a violência, incluindo a violência institucionalizada contra as
mulheres em todas as partes do mundo. No Brasil ocorreram avanços devido as

políticas públicas, mas ainda não basta. Precisamos trazer a memória que ainda
ocupamos um lugar onde a violência contra as mulheres atinge níveis muito
altos e as mulheres são sempre consideradas culpadas por isso.
Mas não desanimemos. Apesar das dores, lutas, desafios, não podemos perder a
coragem e esperança. É preciso seguir adiante e acreditar que é possível um
amanhã diferente, sem mortes, sem violência contra a mulher. E quando todxs
deixarem de crer, creiamos. Quando todxs desanimarem, alimentemos nosso
coração com as promessas. Quando todxs se cansarem, renovemos nossas forças.
E se a vida ao redor se extinguir, prosseguiremos vivas para sempre, na história
e na luta rememorando e celebrando.
O texto “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lm 3:21), nos
diz que é bom trazer a memória o que nos dá esperança, por isso, lembremo-nos
que como mulheres temos experimentado a libertação. Embora pareça
assustador para as mulheres, podemos hoje aguardar a promessa de que nosso
sonho de viver sem violência se tornará realidade no futuro. É importante
continuar contando essas histórias, lembrando, acreditando, lutando. O sonho é
uma jornada de fé que acontece no dia a dia, com as âncoras do passado e as
ferramentas do futuro. O sonho vem da perspectiva do “já” e “ainda não” do
Reino de Deus. O sonho é como o Reino de Deus. Por isso nós, mulheres, juntas
somos mais, juntas podemos fazer mais!

Odete Liber