Centro Social Anglicano: compromisso com a dignidade da pessoa humana
Para algumas pessoas, ser cristão é simplesmente professar a fé em Jesus Cristo e nada mais. Vivem um cristianismo individualista que, muitas vezes, só consegue enxergar as próprias demandas materiais, tais como: conseguir um bom trabalho, comprar a casa própria ou trocar de carro todo ano. Tal pensamento, embora cada vez mais comum, está muito aquém da essência do Evangelho (Mateus 25:31-46). Na outra ponta, iniciativas cristãs verdadeiramente evangélicas, comprometidas com a dignidade da pessoa humana, começam a se fortalecer e a ganhar espaço. É o caso do Centro Social Anglicano (CSA), situado no Novo Gama, Goiás.
Fundado em 2015, o CSA nasceu como resposta a uma realidade dura para muitos brasileiros e brasileiras: a falta de oportunidades mínimas para uma vida digna. O Centro está localizado no bairro Vila União, onde boa parte das famílias vivem com até um salário mínimo por mês. Por meio de uma série de atividades de inclusão – que veremos mais adiante – o local vem trazendo esperança para muita gente.
Contexto
O município do Novo Gama começou a surgir em meados de 1974[1] (a cidade só foi elevada à categoria de município em 1995). Com o passar do tempo, a população local foi aumentando, sobretudo em função do grande fluxo migratório de pessoas vindas de regiões como o Norte e o Nordeste. A maioria dos que ali chegavam iam trabalhar na consolidação de estruturas urbanas da nova Capital Federal, sendo mormente destinadas ao ramo da construção civil.
Inicialmente, o vilarejo teve por finalidade servir de moradia para a população de menor renda e, na condição de “cidade dormitório”, o local não viu prosperar atividades econômicas diversificadas que pudessem promover a elevação da renda e a geração de bons empregos.
Hoje, de acordo com estimativas do IBGE/2019, a população do Novo Gama é de 115.711 habitantes[2]. O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Brasileiro (IDHM) da cidade, que mensura longevidade, educação e renda, é de 0,684[3] – de 0,500 a 0,599 é considerado baixo; de 0,600 a 0,699, médio; 0,700 a 0,799 é alto; acima de 0,800, muito alto. As famílias possuem, em média, três filhos, bem acima dos 1,7 que é a marca do Brasil atual[4]. Outra característica acentuada da região é que as mulheres são arrimo de família – sustentam o lar praticamente sozinhas.
CSA
O Centro Social Anglicano trabalha pela redução das desigualdades, melhoria da qualidade de vida de grupos em situação de vulnerabilidade social e econômica, dentre outras metas convergentes com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ODS da agenda 2030 das Organizações das Nações Unidas[5], que incluem ações continuadas e pontuais de incidência local.
“Dentro do CSA fazemos diversas ações sociais que impactam positivamente famílias inteiras. Também temos trabalhos específicos para crianças e adolescentes. E tudo isso ocorre sem distinção de raça, gênero, orientação sexual e religião, com vista ao combate e superação das desigualdades e garantia de Direitos”, explica a coordenadora e voluntária do CSA, Sandra Andrade.
O lugar também possibilita o fomento de articulações da comunidade em busca de políticas públicas que visem a melhoria de condições de vida para as famílias do bairro. Assim, além de realizar atividades em prol das pessoas ali atendidas, o Centro configura-se como um local onde todos passam a compreender que direitos precisam ser garantidos. E conquistados!
“O espaço do CSA está habilitado a oferecer diversas atividades para a comunidade, como oficinas de capacitação para geração de renda para mulheres; projetos de capacitação visando a inclusão de jovens no mercado de trabalho; reforço escolar; oficinas de música e futebol; aulas de inglês e informática. Atualmente, são atendidas diariamente 100 crianças do Ensino Fundamental. Elas também recebem refeições balanceadas, sempre com um cardápio bem variado… e todo esse atendimento é feito de maneira gratuita”, completa Sandra.
Vale destacar que o número de atendidos cresce a cada ano. Para não descuidar do conforto e da segurança, o quadro de colaboradoras do projeto contempla três contratadas e 10 voluntários, reunindo pedagogas, psicóloga, nutricionista, entre outros. Para manter tudo funcionando, o Centro recebe apoio de parceiros nacionais, como da própria Diocese Anglicana de Brasília e do Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento (SADD), e internacionais, incluindo paróquias e dioceses anglicanas nos EUA, Inglaterra e Portugal.
Atividades oferecidas
Reforço Escolar: os educandos têm a oportunidade de aprofundamento pedagógico para acompanhar o ritmo da turma através das aulas complementares e convivência.
Inglês: como o domínio dessa língua está se tornando cada vez mais necessário na vida adulta, é fundamental que todos tenham oportunidade de aprender o novo idioma.
Informática: a disciplina é tão vital quanto aprender português ou matemática. Novas tecnologias fazem parte do dia a dia e, portanto, esse é mais um diferencial do CSA.
Música: a iniciação musical contribui para o desenvolvimento integral, pois a pessoa acaba desenvolvendo habilidades como concentração, persistência, compromisso.
Futebol: no país do futebol, as iniciativas do CSA que promovem a prática buscam reforçar a linguagem da cooperação, favorecendo mais a integração social do que a competição.
Capacitação: numa comunidade com elevada taxa de desemprego, as oficinas de capacitação ajudam a gerar renda e a incluir jovens no mercado de trabalho.
Evangelho e compromisso
De acordo com o bispo anglicano da Diocese de Brasília, Maurício Andrade, a igreja cristã precisa estar atenta para a inclusão e garantia de direitos. “Incluir e garantir direitos é parte da ação missionária de nossa Igreja Episcopal Anglicana do Brasil”, afirma.
“Na Igreja Anglicana, a definição de missão envolve anunciar as Boas Novas, nutrir e ensinar pessoas convertidas, batizar, mas também transformar as estruturas injustas da sociedade, construir uma cultura de paz e lutar pela integridade da Criação. Por isso, nossa missão é, e sempre será, uma missão de inclusão que cria espaços seguros de acolhida para todas as pessoas que necessitam de apoio e proteção”, conclui Maurício.
Você pode conferir um pouco mais deste trabalho acessando: www.dab.org.br/csa