Projeto Coração Solidário engaja anglicanos e anglicanas de Joinville

O Brasil é o nono país mais desigual do mundo. Recordista em concentrar nas mãos de poucos, ano após ano o país vê crescer o número de pessoas que necessita de algum tipo de apoio para sobreviver. E é justamente nesse cenário de adversidades e escassez que projetos como o Coração Solidário, desenvolvido em Joinville, atua para tentar amenizar a dor das pessoas.
Mas, atenção! O projeto não se coloca como “a solução” para as desigualdades na cidade, até porque, tal solução passa por políticas públicas que enfrentam a questão. Tão somente, o Coração Solidário busca ser mão estendida a quem tem fome; ouvido atento a quem tem queixa; acolhida a quem não tem onde reclinar a cabeça. Nesse sentido, é uma paráfrase de 1 João 3:17: “Se alguém possuir recursos materiais e, observando seu irmão passando necessidade, não se compadecer dele, como é possível permanecer nele o amor de Deus?

Início em 2016

Iniciado como Sopão Solidário e, depois, Dog Solidário (em alusão aos cachorros-quentes que eram distribuídos para a população em situação de rua), hoje, o projeto ganhou um nome mais abrangente (Coração Solidário) e passou a contar com envolvimento direto da Comunidade Reconciliação, também situada em Joinville, norte de Santa Catarina.
“É um projeto que começou em 2016, com um grupo de amigos do qual fazemos parte. Nele temos pessoas de diferentes religiões, incluindo católicos, espíritas e evangélicos. Nossa ideia inicial era alimentar, acolher, ouvir e ajudar pessoas em situação de rua”, explica Patrícia Silva Aguiar, uma das idealizadoras do projeto. “A partir de 2018 fomos abraçados pela Comunidade Reconciliação, que nos apoia em tudo. É uma comunidade anglicana bem ativa”, completa.

Atendimento personalizado

Outro diferencial das ações do Coração Solidário está no esforço dos voluntários em não apenas fazer o bem, mas, também, em conhecer cada um dos assistidos, criando uma ponte, um relacionamento com essas pessoas. “Uma coisa que acho muito importante é saber seus nomes. Chamá-los pelos seus nomes é algo bom para que eles se sintam reconhecidos como indivíduos, e não como apenas ‘mais um’”, afirma o voluntário João Batista Aguiar.
O sentimento de que essas pessoas seguem sempre desassistidas pelo Estado foi um dos fatores que motivou João a esse projeto. “A presença cada vez maior de nossos irmãos e irmãs em situação de rua, o abandono por parte dos governos, a falta de políticas públicas, tudo isso nos deixava angustiados e com a consciência de que precisávamos fazer alguma coisa”, conta.

Números

O Coração Solidário serve suas refeições sempre às quintas-feiras. Numa semana são servidos 60 cachorros-quentes e, na outra, 50 marmitas. Os insumos vêm de apoiadores (pessoa física) e da própria Comunidade Reconciliação. E tudo é preparado na casa dos voluntários.
Até o início da pandemia a entrega dos alimentos era feita em local fechado, com estrutura de cozinha, refeitório e banheiros. Com o fechamento do espaço, por necessidades sanitárias, a entrega passou a ocorrer na rua. “O atual arranjo se adequa mais às necessidades do nosso público, tendo em vista a dificuldade de alguns com o deslocamento”, finaliza Patrícia.

Amai-vos uns aos outros

“Assistir os aflitos, dar de comer a quem tem fome, enfim, cuidar das pessoas é algo que está expresso no mandamento de Jesus, quando Ele disse: ‘Amai-vos uns aos outros’ (João 13:34). Quando a comunidade está disposta ao discipulado, a solidariedade deve ser a coluna mestra deste discipulado. Quando trabalhamos com pessoas em situação de rua, aprendemos que cada um tem uma história que precisa ser respeitada. Infelizmente, são pessoas marginalizadas pela sociedade. Muitos só querem um prato de comida, um cobertor e um pouquinho de atenção. E é o que temos tentado fazer. Que Deus continue abençoando esse trabalho”, conclui Nilo Silva Junior, ministro encarregado pela Comunidade Reconciliação.

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