Projeto leva educação e inclusão a pessoas migrantes

Desde 2016, o Brasil passou a acolher um considerável número de venezuelanas e venezuelanos em seu território. A grande maioria ingressa pela fronteira seca, a cidade de Pacaraima, estado de Roraima. A partir disso, passou a implementar a Operação Acolhida em parceria com agências do sistema ONU. Esta operação humanitária é inédita em território nacional, haja vista a presença de mais de 260.000 venezuelanos no país
Muitos migrantes estão em situação especialmente vulnerável: não possuem recursos financeiros nem emprego; não falam o idioma; não têm acesso à regularização migratória. E para além dessas vulnerabilidades contextuais e situacionais, há vulnerabilidades pessoais – intrínsecas à pessoa (gênero, idade, origem indígena, etc.).
De acordo com o Relatório Situacional Brasil: Tráfico de Pessoas em Fluxos Migratórios Mistos em Especial de Venezuelanos, e segundo dados do Ministério da Justiça, cerca de 262,5 mil migrantes e refugiados da Venezuela vivem no Brasil, a quinta maior nação anfitriã destes cidadãos na América Latina. O estudo revela que o acesso à informação, aos serviços de assistência social, trabalho e emprego – diretamente ligados ao domínio do idioma e à dinâmica de acolhimento – são os mais relevantes para proteção dessas pessoas, impedindo-as de cair nas malhas do tráfico de pessoas.
É nesse contexto que está sendo desenvolvido o projeto de Português para Migrantes, que acontece simultaneamente na Paróquia Anglicana São Felipe (Diocese Anglicana de Brasília), e na Comunidade Anglicana de Manaus (Diocese Anglicana da Amazônia). 

Objetivos

Tendo em vista que o não domínio do idioma representa, na maioria das vezes, uma barreira para a integração social e a inserção no mercado de trabalho, o projeto visa acolher e inserir essas pessoas na sociedade e cultura brasileira e, também, apoiá-las na obtenção do Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros – Celpe/Bra, exame oficial para certificar proficiência em português como língua estrangeira.

Goiânia

O primeiro grupo a participar da experiência em Goiânia é formado por irmãos e irmãs vindos da Venezuela. Na cidade, a equipe conta com a pedagoga Gabriela Botelho, a historiadora e antropóloga Yordanna Lara P. Rêgo (coordenadora), o estagiário Domingos Barbosa de Sousa Filho e o reverendo Izaias Torquato. Os encontros acontecem aos sábados, das 14h às 16h, na sede da CAJUEIRO, no Setor Sul, em Goiânia-GO.

Para Gabriela Botelho, essa tem sido uma experiência desafiadora e muito gratificante. “A turma é muito envolvida e participativa! Eles aprendem comigo e eu, certamente, tenho aprendido muito com eles! Nossas aulas são dinâmicas e muito dialogadas, é um ambiente de acolhimento para todas e todos que participam”, relata.
Yordanna Lara relata que coordenar o projeto tem sido um “desafio enriquecedor”. “Estabelecer um diálogo ampliado com pessoas latino-americanas é uma oportunidade especial para que possamos construir propostas de acolhida e intercâmbio cultural cada vez mais potentes e eficientes – diante do complexo quadro social, político e econômico que estamos vivenciando na América Latina como um todo”, acrescenta.

Manaus

Em Manaus, o encerramento da 1° turma do Curso de Português para Migrantes aconteceu recentemente (veja aqui que lindo). Ao todo, 32 educandos foram diplomados, entre eles, peruanos, venezuelanos, colombianos, comunidade indígena Warao e a comunidade LGBTQIA+. Todo o itinerário contou com acompanhamento socioemocional.

Em diálogo com a diversidade intercultural e inter-religiosa do grupo, no encerramento das atividades foram apresentados os projetos de vida de cada um, com histórias emocionantes de vida e o sonho de uma vida nova. Momento de júbilo, gratidão e esperança.
E pensa que acabou? Claro que não. Uma nova turma já começou com força total

A gratidão de quem já está inserido/a

Luís Alberto Blasini “Olá! Meu nome é Luís, sou venezuelano e estamos em Goiânia há cinco anos. Estou fazendo curso de Portugues para Migrantes. O curso é muito bom, muito dinâmico, muito agradável. E podem participar todos que quiserem. Realmente é um curso aberto para o grande público.”
Carmem Serafim – “Olá! Sou Carmem Serafim. Sou venezuelana, morando no Brasil há cinco anos. Estou participando do curso de Português para Migrantes, está sendo uma experiência social muito boa e está me apoiando muito na preparação para a prova de proficiência Celpe/Bra e eu recomendo para outros venezuelanos.”

Jesus: um exemplo que suleia

Para o reverendo Izaias Torquato, Jesus é a inspiração. “Entendo que, como seguidoras de Jesus, o espaço da Igreja deve compreender o espaço de acolhida para todas as pessoas… sobretudo seguindo o exemplo de Jesus, que era um migrante, que veio de família da Palestina, que caminhava nos territórios da sua referência familiar. Enquanto pessoas seguidoras de Jesus, temos o dever de acolher pessoas estrangeiras, pessoas que estão marginalizadas pela sociedade, excluídas das realidades dos direitos”, conclui.

Sonho que se sonha junto é realidade

Todo esse trabalho só é possível graças ao apoio de diferentes parceiros:
Internacionais: Curso de Resiliência e Resposta a Emergências, organizado pela Aliança Anglicana, departamento do Escritório Global da Comunhão Anglicana para o trabalho de Desenvolvimento Sustentável, Resposta a Emergências e Advocacy; e Episcopal Relief & Development (ERD).
Nacionais: Centro de Formação, Assessoria e Pesquisa em Juventude (CAJUEIRO); Cáritas; Acnur; Associação de Venezuelanos no Amazonas (ASSOVEAM); PET Conexões Urbanas, ligado à Universidade Federal do Amazonas (UFAM), além da Paróquia de São Sebastião (ICAR), em Manaus.
Fonte: IEAB com informações da Paróquia Anglicana de São Felipe (CCA/GOIÁS) e da Comunidade Anglicana da Amazônia