Você conhece a Ordem Beneditina Episcopal Anglicana?

Sim, há uma Ordem de São Bento Episcopal Anglicana (OSB-EA). Neste artigo, vamos te apresentar mais detalhes sobre mais esta riqueza do anglicanismo. Venha conferir!

Introdução e precedentes históricos

A tradição beneditina é parte intrínseca do anglicanismo. O cristianismo celta, oriundo das ilhas britânicas, que apresentava pouca e – durante um intervalo de tempo – nenhuma ligação com o cristianismo continental, teve seus laços fortalecidos e, posteriormente, formalizados, após os trabalhos da missão de monges beneditinos. Estes foram enviados por Roma ao Sul da Inglaterra, criando tal vínculo no século VI e influenciando parte da formação da identidade do que viria a, num futuro bem posterior, se tornar uma das maiores famílias cristãs do mundo: a Comunhão Anglicana.
Ligados à igreja em Roma, os mosteiros beneditinos em solo inglês, desde então, passaram a fazer parte dessa realidade por cerca de mil anos, sofrendo interrupções em sua existência durante o período da Reforma, mas tendo a existência dessa espiritualidade restabelecida na medida em que o tempo passou e a Igreja da Inglaterra foi amadurecendo o conceito de via média como o caminho do bom equilíbrio cristão.
No Brasil, o trabalho beneditino anglicano existe graças especialmente ao Prior Fundador, Reverendíssimo Cônego Sebastião Teixeira, chamado Frei Benito, OSB, clérigo emérito da Diocese Meridional da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, o qual, por iniciativa pessoal, a partir de 1993 procurou conhecer e se aprofundar na espiritualidade beneditina, sob orientação do seu amigo, Abade Dom Joaquim de Arruda Zamith (Igreja Católica Apostólica Romana).
O Cônego Sebastião, inicialmente, não teve intenção em fundar uma Ordem Religiosa, porém – uma vez orientado e abençoado por Dom Zamith, figura tão importante no mundo beneditino brasileiro, e com a procura de outros irmãos pela espiritualidade de São Bento em sua diocese (Meridional) – Frei Benito originou, em 1995, primeiramente um grupo informal e, três anos depois, a partir da criação de mais outro grupo, desta vez na Diocese Sul Ocidental, em 1998, podemos dizer que se constituiu sob o seu Priorado (que deixou de ser restrito a uma Diocese), o que foi chamado inicialmente de Oblatos Anglicanos de São Bento (OASB), hoje simplesmente de Ordem de São Bento Episcopal Anglicana (OSB-EA).

Definição

Com base no Artigo 1º do Regimento Geral da Ordem, a Ordem de São Bento Episcopal Anglicana (OSB-EA) é um grupo composto por membros clericais e leigos de ambos os sexos da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), e que, com conhecimento da IEAB e dentro do ethos anglicano, segue a Regra de São Bento de Núrsia, tendo seus membros internamente subordinados ao Regimento Geral da Ordem (documento equivalente ao seu Estatuto). Eles e elas buscam no caminho das Sagradas Escrituras servir a Cristo, aperfeiçoando continuamente – sob orientações do Priorado – o exercício espiritual e disciplinar do Ora et Labora, através do Opus Dei, da Lectio Divina e do Labor.
A OSB-EA se conforma à doutrina, disciplina e culto da IEAB, não sendo possível sua existência desvinculada dela, e é um grupo único, estruturado de forma nacional (isto é, com abrangência provincial), tendo seus membros presentes em todas as dioceses cujo Bispo ou Bispa Diocesano(a) autorize sua participação individual, ou não revogue autorização dada pelo(a) antecessor(a).
Por ser uma Ordem de tradição anglicana, que defende como indispensável a comunhão com a Cantuária, a Ordem de São Bento Episcopal Anglicana tem como seu símbolo, e insígnia oficial, a Cruz de Canterbury com a medalha de São Bento cravada ao Centro, estando à frente a face onde há as iniciais CSSML NDSMD.
Sendo uma Ordem mista, admite pessoas maiores de idade de ambos os sexos, e possibilita igualmente a ocupação de cargos, funções e atribuições, desde que atendidas as disposições e os critérios do Regimento Geral da Ordem.

Ser um/a beneditino/a

Sem dúvida, a primeira implicação para quem deseja ser um beneditino ou beneditina é: “Escuta…” essa será a primeira lição. Mas, pondo numa linguagem mais comum (talvez até simplista), a consequência da escuta será observar, estudar, cultivar espiritualidade e – dentro das possibilidades de cada um – ser um cristão ou uma cristã de profunda dedicação, onde estiver.
A Ordem busca ser, mesmo com seus membros a distância, um espaço de comunhão, intercessão mútua, estudo constante e cultivo da espiritualidade. Buscar coerência nas nossas atitudes, bom senso no agir, pensar antes de falar, conhecer a si mesmo(a) e buscar autocontrole é aprendizado constante para quem deseja trilhar esse caminho. Ninguém chegará à perfeição, mas o/a beneditino/a, irmanado/a com seus iguais, caminha nessa estrada.
Outro detalhe: ao optar por ser um beneditino ou uma beneditina, a pessoa não deixa de ser cristã e nem deixa (em nosso caso) de ser anglicana, muito pelo contrário, como já explicamos ao início, a história do anglicanismo e do beneditismo se cruzam. Porém, logicamente, no processo de aprendizado, bebemos das inúmeras fontes beneditinas: das mais conservadoras às mais progressistas, das mais tradicionais às mais reformadas, para que possamos ter uma visão completa e equilibrada, sempre com foco na espiritualidade e numa perspectiva do ethos anglicano, ao mesmo tempo em que elementos dessa tradição, como o canto gregoriano e a liturgia das horas, serão exploradas no tempo oportuno.

Sobre São Bento de Núrsia

Nos últimos tempos, têm surgido novas formas de vida religiosa e comunitária, respondendo às necessidades dos cristãos de hoje e à inspiração do Espírito Santo. Todavia, a milenar tradição de vida religiosa no Ocidente tem sido principalmente moldada pela Regra de São Bento (ou simplesmente Regra Beneditina, RB).
Pouco sabemos sobre a vida de Bento. Nasceu na Úmbria (Itália,) em 480 A.D. Aos 20 anos, retira-se para Subiaco, com o objetivo de viver como eremita e dedicar-se à oração. 
Sua reputação de santidade fez que fosse solicitado a dirigir pequenas comunidades monásticas da vizinhança, mas a sua disciplina suscitou oposição e rejeições. 
Em 529, mudou-se para Monte Cassino, onde estabeleceu uma grande família monástica e foi ali que redigiu sua famosa Regra, que resumia e melhorava experiências anteriores (a Regra do Mestre, Santo Agostinho, Cassiano, que por sua vez destilavam os princípios e ideais religiosos dos eremitas e monges do Egito e do Oriente), na procura de Deus, nas práticas da oração e na luta espiritual. Bento morre em Monte Cassino, em 21 de março de 547, mas deixa um legado que perpassou os séculos, espalhando-se pelo mundo e servindo de modelo de vida a inúmeras pessoas de várias denominações cristãs.

A tríplice corda: Opus Dei, Lectio Divina e Labor

A vida comunitária é vista como uma ordenada sucessão de oração, atividade e reflexão. O triplo cordão de ADORAÇÃO, TRABALHO e ESTUDO.
A Regra estabelece primeiro o ”OPUS DEI”, no qual os monges em comunidade celebram sete vezes ao dia o Ofício Diário, composto de salmos, hinos, antífonas, responsórios e leituras bíblicas. O modelo espalhou-se por toda Europa e, embora sofresse adaptações e desenvolvimentos durante os séculos, converteu-se, por mais de mil anos, em norma para toda a Igreja Ocidental.
Enfatiza, em segundo lugar, a “LECTIO DIVINA”, na qual os irmãos refletem sobre textos bíblicos, os escritos dos Santos Pais e Mestres da espiritualidade, para que, num tranquilo processo de absorção, baseado na verdade da Palavra de Deus, nutram suas inteligências e moldem um temperamento reflexivo e contemplativo de devoção.
Em terceiro lugar se estabelece o ”LABOR”, que assegura para as pequenas comunidades monásticas a autossustentabilidade social, espiritual e econômica. O ritmo de trabalho e oração oferecia uma espiritualidade integrada e equilibrada. Deus era glorificado tanto pelo uso e mordomia da criação, quanto na articulação do louvor na Igreja.
Logicamente, numa Ordem que não é comunitariamente fechada como a nossa, esses ensinamentos são trazidos e adaptados para a vida no século, para a vida fora do mosteiro como pessoas que interagem com o mundo, constituindo essa adaptação material para a nossa vivência e também de nossos estudos.

A prática da Liturgia das Horas

Como a rotina de vida de cada membro da OSB-EA é fora do mosteiro, a liturgia das horas é feita individualmente por cada membro em seu dia a dia e dentro das suas possibilidades, conforme sua realidade pessoal.
Coletivamente, em datas agendadas, a Liturgia das Horas também é praticada pela Ordem reunida, sendo usada de acordo com o momento do dia. Para os membros, participantes ou visitantes aos trabalhos da Ordem, que possuem um Capítulo Beneditino em sua região, isso é feito presencialmente, e para todos os membros pelo meio virtual duas vezes ao mês.

Vivência e espiritualidade na Ordem Beneditina Episcopal Anglicana

Podemos dizer que o lema Ora et Labora consegue traduzir a vocação beneditina e como sua espiritualidade é cultivada. Tudo para uma pessoa beneditina é um serviço para Deus. Portanto, a oração, a introspecção, o silêncio para ouvir a voz de Deus e o exercício espiritual antecedem todas as coisas. Sobretudo no mundo agitado de hoje, onde a exigência de respostas imediatas é tão importante, e onde “não há tempo para coisa alguma”, pensar antes de agir significa para um beneditino silenciar, refletir e orar antes de tudo.
O “Ora” antecede o “Labora”, mas não se dissocia dele. A fé sem obras é morta em si mesma, mas (enfatizando aqui a visão da Reforma) a fé deve ser impulsionadora da obra. O trabalho começa pela disciplina espiritual, mas permeia toda a vida, pois a criação divina está em toda parte e, dessa forma, tudo o que fazemos deve ser dedicado à Deus.
Um beneditino ou beneditina não exerce, necessariamente, um carisma específico (num sentido exclusivista), ou ainda pré-determinado, seja ele a caridade, ou o ensino, ou administração… mas em qualquer um deles o fará prioritariamente como um exercício de serviço ao Senhor. Isso tudo se realiza também como trabalho em prol do próximo, partindo da dimensão individual para a coletiva, sem esquecer que, na vida coletiva (e essa é a realidade dos monges ou monjas nos mosteiros) aprendemos com o outro, e assim fazemos o movimento de volta. Do coletivo retornamos para o individual, e assim retroalimentamos o crescimento da maturidade de cada um, criando um ciclo contínuo, fortalecendo no Ora et Labora a indissolubilidade que o caracteriza.

O Regimento Geral da Ordem e outras bases da OSB-EA

A Regra de São Bento e a Liturgia das Horas, com os devidos referenciais nas sagradas escrituras, constituem as fontes para a rotina de nossa prática espiritual. Entretanto, estando devidamente organizada, a OSB-EA dispõe de seus livros internos destinados ao seu bom funcionamento cerimonial e administrativo, pois não existe harmonia onde impera o improviso
O Regimento Geral da Ordem rege sobre seus aspectos internos, como o propósito da Ordem, admissão de membros, formação, atividades, estrutura, etc.
No Ritual, para uso nas cerimônias internas, temos – conforme recebido em nossa tradição beneditina anglicana – os ritos de postulância, noviciado e votos de oblação, bem como a Investidura de Priorado e outras orientações.
O Caderno de Modelo de Documentos permite a cada oblato conhecer tanto os documentos relacionados à parte administrativa, quanto os certificados e documentos ligados à formação e aos Ritos na Ordem.
O Livro de Memórias detalha nossa história, pois um grupo que não preserva sua história de forma realista fica sem passado, perde a direção no presente e não consegue planejar seu futuro de maneira sóbria.
Cabe lembrar que o estudo da Regra, a prática da Liturgia das Horas, o conhecimento dos documentos internos contribui para uma formação completa dentro desta OSB-EA.

Acesse o site da OSB-EA

Gostou de saber que temos uma Ordem de São Bento Episcopal Anglicana? Quer se aprofundar um pouco mais no assunto? Então acesse o site deles neste link.