Assembleia do CMI termina com declaração que apela à paz mundial

Foi realizada, entre os dias 31 de agosto e 8 de setembro, a 11ª Assembleia do Conselho Mundial de Igrejas – CMI. Reconhecendo a profunda necessidade de um “diálogo renovado dentro do movimento ecumênico”, a Assembleia divulgou uma declaração “afirmando fortemente o compromisso do CMI e de suas igrejas-membro com a pacificação por meio do diálogo inter-religioso e da cooperação em todos os níveis” e pedindo um cessar-fogo global em todos os conflitos armados ao redor do mundo.
A IEAB esteve oficialmente representada por Elisabeth Ivete Sherrill, da Paróquia de São Lucas, Diocese Anglicana do Rio de Janeiro (DARJ), que compartilhou o seguinte relato conosco:
“O Conselho Mundial de Igrejas realizou sua 11ª Assembleia nos dias 31 de agosto a 8 de setembro de 2022, na cidade alemã de Karlsruhe. Eleita no 34º Sínodo em 2018 para representar a IEAB no CMI, esta Assembleia era para ocorrer em 2021, porém, devido à pandemia da Covid-19, só veio a se realizar este ano. O tema da Assembleia foi “O amor de Cristo nos move à reconciliação e à unidade”, inspirado em 2 Coríntios 5:14 e enraizado no desígnio de Deus para a reconciliação e unidade em Cristo.
A agenda da Assembleia foi intensa, principalmente para os delegados que, como representantes das Igrejas-membro, votam nas deliberações e podem fazer sugestões aos textos produzidos. Um dia típico começava pela manhã com orações às 8h30-9h15, seguida por uma sessão Plenária temática para todos das 9h45 até 11h15. Após o coffee break, às 12h00, os delegados participavam de Home Groups, estudos bíblicos em grupos de cerca de 30 pessoas, até a hora do almoço, às 13h15.
A minha hora do almoço (13h15-15h00), a partir do 2º dia, foi tomada por uma reunião do Comitê de Diretrizes Programáticas, para o qual já tinha sido convocada a participar antecipadamente. Este comitê discutiu as diretrizes dos programas do CMI para os próximos oito anos, até a Assembleia seguinte. Às 15h00 se iniciava uma reunião plenária “de negócios” para os delegados, com a apresentação de diversas questões administrativas e temáticas a serem votadas, até por volta de 16h30, seguido de um coffee break de ‘descanso’ até às 17h00, quando se iniciavam as Conversas Ecumênicas. Estas foram apresentações e discussões em grupos sobre temas específicos que escolhíamos previamente, até às 18h15.
A oração da noite iniciava às 18h30. Após o jantar, por volta das 20h00, a programação variou entre reuniões regionais e confessionais, como para América Latina e Caribe e da Comunhão Anglicana, das quais participei, até uma belíssima apresentação com canto, dança e efeitos visuais das igrejas alemãs que nos remeteu a seu passado de guerra e reconciliação.

As Plenárias temáticas pela manhã foram também ocasiões de belíssimas apresentações visuais e de discussões sobre temas da atualidade importantes para a cristandade. No fim de semana, a Assembleia ofereceu aos participantes e delegados um rol de peregrinações a lugares históricos cristãos e visitas turísticas naquela região da Alemanha. Porém, os delegados convocados para Comitês, como eu, trabalhamos sábado e domingo, mas com muito gosto.
A Assembleia abordou o tema do cuidado com a Criação de Deus e as questões de justiça ambiental, econômica e social, o tripé do desenvolvimento sustentável, sob todos os aspectos. Sendo um tema transversal, que permeia quase todas as atividades humanas, este tripé foi abordado nas plenárias temáticas, nos documentos aprovados, em conversas ecumênicas, e em discussões sobre todas as formas de injustiça.
A luta dos povos originários pela manutenção de suas terras ancestrais, de sua cultura e espiritualidade associada à biodiversidade, foi particularmente enfocada, assim como a crise das mudanças climáticas, que já se faz sentir de forma acentuada. Ficou claro que este é um tema de grande atualidade para as Igrejas. Na plenária final, o relatório do Comitê de Diretrizes Programáticas, do qual participei, requisitou ao Comitê Central a criação de uma Comissão de Mudanças Climáticas e desenvolvimento sustentável.

Oportunidade de convivência com outras pessoas cristãs

A Assembleia do CMI, sendo uma comunhão de Igrejas cristãs, foi uma oportunidade única de ter a experiência de convívio com inúmeras denominações (atualmente são 352 Igrejas). A minha experiência deste ecumenismo foi que, de fato, temos muitas diferenças, algumas que às vezes parecem intransponíveis. Mas, se focamos naquilo que nos une, que é a fé no Deus Triuno, Pai, Filho e Espírito Santo, as barreiras se diluem e se distanciam, e a esperança de um mundo onde o amor de Cristo nos move à justiça, reconciliação e unidade, renasce.

Paulo Ueti, anglicano e biblista, também esteve presente

Outro anglicano que esteve na Assembleia foi o biblista Paulo Ueti. Para ele, “Participar de uma Assembleia do CMI é sempre motivo de muita satisfação para nós, pessoas cristãs”.
Ueti assessorou, com outras e outros colegas, a Pré-Assembleia de Mulheres e Homens.

“Enquanto anglicano e biblista, pude compartilhar um pouco de minhas vivências a aprendizados com participantes, delegados e delegadas que vieram antes da Assembleia para a pré-assembleia. Especificamente, compartilhei a facilitação com Sarojini e Johnathan, da África do Sul, o texto do encontro na estrada de Felipe com o eunuco etíope. Exploramos o que impede pessoas de serem aceitas plenamente na comunidade cristã. Sexo, sexualidade e gênero, etnia e cor da pele, classe social foram enfatizados. Há grupos dentro de nossas igrejas e há teologias que se acham no direito de decidir que corpos valem e que corpos não valem. Isso foi bem expresso na Pré-Assembleia com indignação e frustração: Até quando? É urgente seguir trabalhando para educar homens e mulheres em masculinidades transformadoras e redentoras, e é necessário seguir lutando pela justiça de gênero. Durante a Assembleia, também compartilhei um estudo bíblico na plenária com o tema da ‘afirmação da justiça e dignidade humana’, embasado no texto de Mateus 15:21-28”, explicou.
A cobertura completa da Assembleia do CMI está neste link.