Foi realizado, de 19 a 21 de maio, o 40° Concílio Diocesano da Diocese Anglicana de Brasília (DAB). O Concílio da DAB foi um momento para celebrar a vida da Diocese, que completa 38 anos de vida e missão.
Durante esses dias de encontro, foi aprovado o Planejamento Estratégico para a Diocese (2022-2025), nomeadas as Comissões e demais cargos diocesanos, e atualizados, com aprovação, Missão, Visão e Objetivos da Diocese, que agora ficam assim:
“O Concílio é sempre uma oportunidade de alargar nosso olhar percebendo os diferentes caminhos de missão ao redor da Diocese”, explicou o bispo diocesano, Maurício Andrade.
A seguir, você lê a bela Carta Pastoral que deu início ao Concílio:
Carta Pastoral à 40° Reunião Conciliar da Diocese Anglicana de Brasília, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, reunida no Espaço Cathedral Coworking, Brasília-DF, nos dias 19 a 21 de maio de 2023
Irmãs e Irmãos em Cristo reunidas nesta reunião conciliar da Diocese Anglicana de Brasília, certamente este será mais um especial momento de encontro de celebração, alegria e partilha do caminhar da vida diocesana.
Nunca é por demais recordar que Concílio/ Sínodo, palavra que vem do latim e significa literalmente Caminhar Juntos. Assim, nestes dias iremos olhar e caminhar juntas no diálogo e nas decisões, na perspectiva da unidade e dos desafios novos que estão diante de nós para renovarmos nosso compromisso com Cristo, expressando solidariedade, esperança e amor. Esse ano nossa reunião conciliar se emoldura no contexto da Ascensão de nosso Senhor Jesus Cristo, ainda no dia de ontem celebramos esse tempo, que é um dia que nos remete a Páscoa, e isso acontece 40 dias depois do domingo da ressurreição, a Páscoa de nosso Senhor. É a promessa de que o Cristo ressuscitado volta para o Pai, mas não nos deixa abandonado, nos envolve na ternura e cuidado.
Ascensão é ser, é viver, é respirar o Evangelho, onde estamos e com quem estamos, e por isso o decisivo, é sermos.
Aqui Cristo se despede, mas quer manter-se vivo no meio de nós e através de nós. Ele nos dar paz, coragem, consolo, força e benção para que sejamos pessoas justas, solidárias, amorosas e confiantes ali onde estivermos vivendo e atuando. Assim Cristo nos chama para sermos sal e luz.
Gente querida, a Ascensão do Senhor aponta para a futura esperança e exaltação da humanidade que o aguarda com fé, até a sua volta. E por isso, a missão dos discípulos e discipulas passa a ser a nossa missão. Pregar o Evangelho de Jesus que salva e transforma vidas.
Nosso Concílio também se envolve em outras duas realidades propostas para esses dias, ou seja, Thy Kingdom Come (Venha o Teu Reino) e a Semana de Oração pela Unidade Cristã.
A campanha de oração TKC começa no dia da ascensão e vai até domingo de Pentecostes. É um movimento ecumênico global de oração que convida cristãos de todo mundo a se unir em oração. Esse movimento começou em 2016 como um convite dos arcebispos de Cantuária e York para a Igreja da Inglaterra, e se tornou em um chamado internacional e ecumênico de oração.
Atualmente o movimento TKC envolve mais de 85 denominações e tradições religiosas diferentes.
Nas palavras do Arcebispo Justin “ao rezar venha o teu Reino, todas nós nos comprometemos a fazer a nossa parte na renovação das nações e na transformação das comunidades”.
E a Semana de Oração pela Unidade Cristã, que no Brasil terá abertura na próxima segunda-feira (22/05) e vai até o domingo de pentecostes (28/05).
Esse ano a SOUC se movimenta na inspiração do tema “aprendei a fazer o bem, provai a justiça” (Isaías 1,17).
Cada ano o tema é produzido e elaborado por um Conselho de Igrejas, e esse ano o material foi produzido pelo Conselho de Igrejas de Minnesota, nos Estados Unidos. E podemos nos recordar que Minnesota caracteriza-se historicamente, pela profunda disparidade racial, o episodio mais recente e que tomou dimensões para além de Minnesota, foi o assassinato de George Floy, em março de 2020. E essa onda de mobilizações e denúncias ficou conhecida como “vidas negras importam”.
Esse ano vamos nos manter inspiradas e motivadas, pela mensagem do profeta Miquéias 8,6 “ o Senhor espera de ti, que pratiques a justiça, ames a misericórdia e andes humildemente com teu Deus”.
Miquéias é contemporâneo de Isaías e agiu em Judá (750-687 a.C.). Pouco se sabe sobre sua pessoa. Seu livro não contém narrações históricas, mas palavras de juízo sobre Israel e Judá (caps. 1-3; 6-7.6), palavras de salvação (caps. 4-5) e parte de uma lamentação popular (7.7-20).
O texto que nos motiva e inspira está inserido nas palavras de juízo sobre Israel (caps. 6-7.6) porque o Senhor tem controvérsia com o seu povo, e com Israel entrará em juízo.
Especialmente, o V. 8: indica que não há sacrifício que possa salvar o povo (por maior e mais intenso que seja). A solução vem de uma outra maneira: o caminho do arrependimento, da mudança de atitude, da sujeição à vontade de Deus (Ele te declarou, ó homem, o que é bom).
Parar com essa vida gananciosa e egoísta. Retomar o caminho do Senhor. Deus diz o que é bom: praticar a justiça, amar a misericórdia, andar humildemente com Deus. A forma de pergunta sugere que isto é muito melhor e mais acertado do que o maior dos holocaustos. Justiça, misericórdia e humildade.
Nestas três coisas se resume o que é bom. Além delas, nada mais é necessário.
Praticar a justiça é cumprir o projeto libertador de Deus, que demonstra a sua preferência pelas vítimas da injustiça humana.
É não acumular terras, não explorar as famílias, não distorcer a teologia, usando-a como legitimação ideológica, é não corromper os julgamentos, não falsificar a palavra de Javé, não construir Jerusalém com o sangue do povo.
Fazer justiça é organizar a vida da sociedade em torno dos valores da solidariedade, liberdade e igualdade.
Amar a misericórdia é ir além da prática da justiça.
É ter um coração para o pobre (misericórdia). É amar a solidariedade.
É sentir-se irmanado com aquelas pessoas que necessitam de ajuda. Enquanto a justiça cria uma sociedade equilibrada, a misericórdia estabelece a comunidade.
Andar humildemente com nosso Deus é, em última análise, manter constantemente viva a lembrança de que somos criaturas, não deuses diante d’Ele e de nossos semelhantes!
É não se deixar levar pela ânsia de poder, que se sobrepõe aos outros seres humanos. É, finalmente, amar a Deus e as outras pessoas, assim como Ele nos amou primeiro.
E é nessa trilha de praticar a justiça, amar a misericórdia e andar humildemente com nosso Deus que convoco ao clero e povo da nossa Diocese, no ano em que celebramos 38 anos de missão, a mergulhar ainda mais profundo nos caminhos de expressar solidariedade, esperança e transformação, na certeza de que um mundo novo é possível.
Queremos nos manter nos chamados da Conferência de Lambeth 2022 e sermos a expressão da Igreja de Deus para o Mundo de Deus.
A Conferência de Lambeth 2022 se desenvolveu em 3 fases, a primeira fase foi a preparação, através de encontros de bispos e bispas de diferentes regiões, reunidas via plataforma zoom, e foram momentos de reflexão e conhecimento mutuo com vista a segunda fase, que foi o tempo presencial de encontro em Cantuária, e nesse momento foram aprofundados os chamados de Lambeth que nos levou a “ caminhar , ouvir e testemunhar juntos”.
Na dimensão da Missão e evangelismo/ identidade anglicana/ paz, reconciliação e dignidade humana/meio ambiente/unidade cristã e relações inter-religiosas/ discipulado/ e fé e ciência.
E atualmente está se iniciando a terceira fase, que será marcada pelo Testemunho Conjunto, para fazer os resultados da Conferência avançarem. Essa terceira fase da jornada de Lambeth será moldada pela ideia de “Chamado e Resposta”.
Como fazer tudo isso, e se manter na caminhada de fé e esperança.
Sem dúvida, será nos mantendo guiados pela Parábola do Amor. Porque, em sendo guiados pelo amor, seguiremos guiados para a Justiça, misericórdia e humildade.
O perfeito Amor lança fora todo medo. Essa é a parábola do amor que nos une e faz entender que a diversidade é a nossa força, e que a partir dessa compreensão construiremos relações e condições de ser uma Igreja Segura.
No Brasil estamos vivendo o sentimento de um longo amanhecer de reconstrução, a expectativa é de reconstrução, contudo ainda percebemos os difíceis sinais de morte, a tragedia vivenciada pelos Yanomamis e outros povos indígenas, a violência urbana e no campo, o aumento da fome e o crescimento da população em situação de rua, a precarização do trabalho, a queda da renda e o aumento da desigualdade social, a discriminação com a pessoas lgbtqia+, o feminicídio crescente.
São sinais que nos indicam que precisamos manter nosso compromisso de denúncia das injustiças e como nos aponta a quarta marca da missão: Procurar a transformação das estruturas injustas da sociedade, desafiar toda espécie de violência e buscar a paz e a reconciliação.
Para nós é uma grande alegria chegarmos a esse Concílio com a nova formatação do nosso Plano Estratégico de Missão a ser referendado para os anos de 2023 a 2025.
Reunidas em março atualizamos nossa Visão e Missão e destacamos as temáticas importantes a serem abordadas em nossas ações.
VISÃO “Ser uma igreja segura, ousada e dinâmica no testemunho do Evangelho e na ação missionária, enfrentando as desigualdades, vivenciando as diversidades, promovendo a vida digna, o cuidado da integridade da criação e a reconciliação.”
MISSÃO “Ser uma igreja missionária, que sirva a todas as pessoas, testemunhando o Evangelho, enfrentando as desigualdades, fomentando a reconciliação e salvaguardando a criação”.
E a partir dessa atualização ficou apontado 4 eixos de ação para os próximos 3 anos: A) sustentabilidade financeira, capacitação e gestão; B) Comunicação; C) Diaconia/evangelização/pastorais de juventude, mulheres, crianças e advocacy; D) Formação teológica, linguagem e vocações (ministeriais e leigas).
E nunca é demais recordar que nosso compromisso se concretiza nas Marcas da Missão: – Proclamar as boas novas do Reinado de Deus; – Ensinar, batizar e nutrir os novos crente; – Responder às necessidades humanas com amor; – Procurar a transformação das estruturas injustas da sociedade, desafiar toda espécie de violência e buscar a paz e a reconciliação; – Lutar para salvaguardar a integridade da Criação, sustentar e renovar a vida na terra.
E, assim, vamos adiante “Como uma Igreja que vai em Esperança solidária” (Simei Monteiro).
Recordando as palavras do Pastor Martin Luther King “devemos descobrir o poder do amor, e a força redentora do amor, e quando fazemos isso vamos fazer deste velho mundo um novo mundo”.
Que estejamos unidos no caminhar, guiados pelo amor, e sendo parábola do amor de Deus. Servindo e transformando vidas, praticando a justiça, amando a misericórdia e andando com nosso Deus.