Mais de 130 anos depois da abolição da escravidão, alguns silêncios permanecem. Apesar dos esforços de estudiosos dedicados a compreender esse período ocultado pela historiografia, ainda existe um vácuo informacional que contribui para a manutenção de narrativas únicas que passam por cima de todos os silenciados e violentados que foram a base para a consolidação dessas instituições no Brasil. Essa história única tem moldado o imaginário e delimitado de forma velada os lugares e não lugares de pessoas brancas e negras nas igrejas evangélicas, desde a composição do corpo eclesiástico até as posições voltadas para o serviço, fazendo com que, mesmo após todos esses anos, a fotografia do poder das igrejas históricas ainda seja masculina e branca.
Nesse contexto, o Movimento Negro Evangélico (MNE) aproveita o momento estratégico propiciado pelo dia 13 de maio, que marca a “abolição da escravidão,” para provocar um debate público sobre memória, verdade e o papel que a igreja evangélica desempenhou naquele período.
Entre os dias 28 e 30 de junho, várias atividades serão realizadas dentro e fora das igrejas e o MNE quer contar com você para ser um agente multiplicador desta campanha. Por isso, convida a organizar alguma atividade na sua comunidade de fé, na sua igreja, pequeno grupo, coletivo e até mesmo vizinhança, sobre o tema.
Fique à vontade para propor atividades que façam sentido para você.
Aqui vão algumas sugestões:
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Roda de conversa;
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Mesa de debate;
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Live;
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Momento de oração e culto específico sobre o assunto.
Neste link, segue um formulário para te conhecer melhor e facilitar o apoio do Movimento Negro Evangélico à sua atividade. Foram preparados alguns materiais de apoio e instruções que serão enviados depois da sua inscrição.
Os dados coletados possuem a finalidade identificar as iniciativas que serão realizadas dentro do escopo da campanha “Escravidão: e a igreja com isso?“. Desta forma, não serão utilizados para finalidades comerciais, econômicas, publicitárias. Conforme a Lei Geral de Proteção de Dados (13.709/2018), os dados armazenados poderão ser, a qualquer momento, retirados dos nossos bancos de dados, mediante prévia solicitação.
Qualquer dúvida ou dificuldade no preenchimento do formulário, entre em contato através do email: comunicacao@mnebrasil.org.
ASSINE O MANIFESTO “ESCRAVIDÃO: E A IGREJA COM ISSO?”
Nós, pessoas antirracistas evangélicas, através deste documento fazemos um apelo público à igreja protestante e evangélica deste país. Há 136 anos, o povo negro no Brasil recebeu um documento oficial de abandono do Estado brasileiro, depois de 388 anos de sistema escravocrata, os poderosos decidiram abolir a escravidão sem nenhum tipo de reparação para o povo que gerou a riqueza de um dos países mais ricos da atualidade. Mais de 130 anos depois da abolição da escravidão, alguns silêncios permanecem. Apesar dos esforços de estudiosos dedicados a compreender esse período, ainda existe uma demanda historiográfica e informacional que contribui para a manutenção de narrativas únicas que omitem em muito as vozes dos silenciados e violentados que foram a base para a consolidação dessas instituições no Brasil.
Entendemos que a escravidão colonial, foi um dos maiores crimes da história da humanidade e por isso precisamos dizer que é urgente: Reconhecer a escravidão como crime humanitário, incentivar a preservação e resgate da memória da história de comunidades e pessoas negras que foram apagadas, responsabilizar as instituições que lucraram e se beneficiaram do sistema escravocrata e defender a reparação dos povos escravizados como um direito fundamental para conseguirmos construir um país mais justo e igualitário que tem um compromisso radical com a justiça social.
Através deste manifesto afirmamos que a luta contra o legado da escravidão não é somente responsabilidade do povo negro ou indígena, mas sim de todo o país. É um dever ético reconhecer que o debate da escravidão precisa ser de cunho civilizatório, estamos literalmente discutindo que tipo de nação queremos ser, e se todo o sofrimento causado ao povo negro durante séculos continuará sem respostas, ou se iremos assumir um compromisso como povo de tocarmos em uma ferida ainda aberta que se chama: Escravidão.
Nós reconhecemos que o debate sobre memória e verdade para reparação já tem sido levantado desde a Conferência da ONU em Durban em 2001, onde se estabeleceu a importância de políticas e práticas para a ampliação do acesso à memória como passo crucial para alcançarmos políticas de reparação. Importante dizer que pastores, redes e coletivos negros evangélicos já lançaram manifestos que cobravam das igrejas uma posição sobre a escravidão: Em 2003 tivemos o Manifesto do Fórum de Lideranças Negras Evangélicas, em 2008 tivemos o Manifesto “O perdão, os 120 anos da abolição inacabada e as igrejas históricas”, em 2020 tivemos o Manifesto de Negras e Negros Evangélicos e em 2022 tivemos o Manifesto Negro Protestante Brasileiro. Todos estes documentos foram elaborados por pessoas negras evangélicas, em sua maioria lideranças pastorais e teológicas, e de alguma maneira alertavam a igreja brasileira sobre um pecado em que ela historicamente contribuiu e muitas vezes ficou em silêncio.
Nós insistimos de maneira repetida no amor. Acreditamos firmemente que somente o caráter revolucionário do amor pode dar espaço para uma realidade de justiça plena para todas as pessoas. Neste contexto, fazemos um apelo público as igrejas históricas, primeiro por um pedido de perdão oficial ao povo negro brasileiro, e segundo, solicitamos que atuem no sentido de reescrever a história da igreja não só facilitando o acesso aos registros e documentos oficiais das instituições eclesiásticas que já estavam no Brasil naquele período mas trabalhando para que se estabeleça a verdade.
Portanto reiteramos: Irmãs e irmãos, liberem e facilitem o acesso aos seus arquivos da época da escravidão, queremos entender melhor qual era a relação das igrejas protestantes históricas com a escravidão. Queremos saber: E a igreja com isso?
Caso queira assinar o manifesto, clique aqui.
Com informações do Movimento Negro Evangélico