Jovem da Diocese de Brasília Participa de Academia de Líderes (ELA) no Japão
Caio Inacio, jovem da Diocese Anglicana de Brasília, participou de um treinamento de lideranças (Emerging Leaders Academy – ELA) no Asian Rural Institute (ARI), no Japão.
A imersão, iniciada no dia 3 de julho e finalizada no dia 23 do mesmo mês, teve como objetivo capacitar lideranças para promover a sustentabilidade, a liderança servidora e a teologia contextualizada em suas comunidades.
Durante três semanas, os participantes se engajaram em uma variedade de atividades educativas e práticas, que incluíam desde a agricultura orgânica, formação de novos líderes, novas percepções teológicas e também atividades do dia a dia do ARI.
A experiência, enriquecida por treinamentos e visitas culturais, proporcionou um aprendizado profundo e significativo, alinhado com princípios de justiça social e ecologia.
Neste link, confira a notícia que saiu no site da Comunhão Anglicana.
Confira, a seguir, o relato que o Caio compartilhou conosco.
Primeira semana
Chegamos ao Asian Rural Institute – ARI (Instituto Rural Asiático) no dia 03/07/2024, fomos recebidos pelo Jack, que faz parte do quadro de funcionários do ARI. Ele nos deu uma breve introdução sobre a vida aqui e também como seriam os nossos dias.
No outro dia tivemos a nossa primeira sessão de estudos com a diretora do ARI, a Sra. Tomoko. O tema abordado foi “Por que ARI?”. A instituição foi fundada em 1973, tendo como foco principal atender a população rural. Entenderam desde o princípio que o ato mais igualitário na vida de toda a humanidade e o da alimentação, por esse motivo montaram o curso de 9 meses para que as pessoas pudessem aprender a melhor maneira de produzir alimentos, sendo saudáveis, trabalhando em parceria com a natureza e também com suas comunidades locais. O lema do ARI é “Para que possamos viver juntos”.
Nesse mesmo dia, tivemos uma outra atividade em que conhecemos um pouco mais da cultura uns dos outros, participantes do ELA, compartilhamos as particularidades das nossas sociedades e também das nossas famílias. Foi extremamente enriquecedor compreender melhor a bagagem que cada um traz consigo e igualmente a maneira como fomos educados/ formatados. Terminamos a tarde aprendendo a como fazer a limpeza dos ovos coletados que são utilizados nas refeições do instituto e também vendidos.
No sábado, começamos a participar das atividades matinais da instituição. Fomos divididos em três grupos e cada um foi fazer uma coisa. O meu grupo ficou responsável por preparar as camas dentro da estufa para receberem as sementes que ali serão plantadas. Foi uma atividade bem cansativa e ao mesmo tempo bem interessante, compreender a importância de cada passo na preparação da terra.
No domingo visitamos a Igreja Utsunomiya que fica em Tochigui, após o culto tivemos uma recepção no salão da igreja e interagimos com alguns membros da comunidade. Almoçamos em um restaurante local que fica perto do Museu Oya Stone, museu esse que visitamos. Esse museu no passado foi uma mina e as rochas extraídas foram utilizadas em diversas construções japonesas, um belíssimo local recheado de história.
Segunda semana
Começamos a segunda semana aprendendo com o Sr. Osamu sobre “O que é sustentabilidade, vida integrada com a natureza”. Osamu nos mostrou os malefícios da utilização de pesticidas e como eles quebram todo o ecossistema. Quando decidiram trabalhar com a agricultura orgânica automaticamente decidiram trabalhar em parceria com a natureza e consequentemente produzimos vida. Um pensamento muito interessante que ele trouxe foi um dos motivo da indústria pesticida trabalhar com venenos: eles veem os insetos com inimigos, procurando de todas as formas eliminá-los e também formas de controlar a natureza, não respeitando as estações e ciclos, querendo criar suas próprias regras e seu próprio tempo de germinação para produção dos frutos. Ao trabalharem com a agricultura orgânica estão trabalhando em parceria com a natureza e suas leis, aprendendo a como usar o que a natureza fornece para uma colheita mais saudável.
À tarde, tivemos um workshop de curry. Fomos divididos em duplas, preparamos toda uma refeição usando porco e uma dupla usou ovo, personalizamos um pouco nossas receitas e quando terminamos pudemos comer um pouco do que cada dupla tinha preparado.
A Sra. Tomoko nos deu outro treinamento com o tema “Liderança Servidora”, ela nos mostrou a importância de sermos líderes que lideram através do exemplo. São os primeiros a servir, assim como Jesus, usam muito a imagem de Jesus lavando os pés dos discípulos. O líder primeiro serve os outros e depois lidera, esse deve ser o objetivo de um líder servo.
Dois outros funcionários do instituto, que atuam como missionários, Jhonatan e Thimoteo, nos deram um treinamento sobre “Teologia Contextualizada”. Mais do que estudar e fazer teologia, precisamos contextualizá-las a nossa realidade. As pessoas que estão ao nosso redor precisam entender que a Bíblia fala com elas em suas realidades, não é algo distante, e que Deus está preocupado com as suas necessidades e deseja caminhar perto delas.
Outro treinamento que tivemos com a Sra. Tomoko foi “Escuta Ativa”. Precisamos aprender a realmente escutar as pessoas, sermos intencionais no processo de escuta. Como líderes, precisamos mostrar que estamos dispostos a ouvir nossos liderados e separarmos tempo para tal e como bons ouvintes temos que aprender a fazer boas perguntas.
Depois do treinamento, fomos divididos em duplas e praticamos o que tínhamos acabado de aprender. Foi uma experiência incrível poder criar um ambiente saudável para que a minha dupla pudesse compartilhar sua história e quando retornamos fomos incentivados a fazer uma autoavaliação da nossa ação como ouvintes e também como aqueles que estavam sendo escutados.
Paulo Ueti nos deu um workshop sobre “O que é a Comunhão Anglicana”, nos mostrou como a Comunhão é formada, o que a sustenta e também sobre as diferentes formas de ver as coisas. A partir disso nos mostrou como é importante pensarmos a maneira como estamos fazendo teologia, como pensamos sobre Deus e sobre a igreja. Fomos incentivados a ver aquilo que diverge de nossas opiniões com bons olhos, pois essas divergências nos mostram muitas coisas que não estamos vendo.
Vivenciamos a prática sobre “Comunicação não violenta”, orientados pela Sra. Tomoko. Ela nos contou uma experiência vivida e pediu para que identificassem por meio de umas cartas as emoções que ela sentiu naquele momento, dentre várias cartas ela selecionou 3 cartas e depois pediu para que selecionássemos outras cartas que fossem o oposto das primeiras e dessem alternativas de numa outra ocasião como aquela transformar aquela realidade. Depois do exemplo, ouvimos dois relatos dos participantes e de certa forma os ajudamos a ver melhor a situação que compartilharam conosco.
O segundo workshop com o Paulo Ueti foi sobre a importância da leitura crítica do texto bíblico e igualmente da sua contextualização. Como é importante mudarmos a maneira de lermos e interagimos com o texto bíblico, muitas vezes temos perpetuado inúmeros preconceitos porque aprendemos a fazer uma leitura bíblica que os fortalece.
Aprendemos a como identificar a estrutura do texto e a fazermos perguntas para o texto, muitas vezes por não fazermos as perguntas adequadas perdemos muitas informações que estão ali no texto e acabamos nos “contentando” com informações muito básicas. Foi enfatizado que as pessoas em posição de liderança foram chamadas para serem pontes e facilitadoras para seus liderados.
O bispo Francis Kiyosumi Hasegawa, da Diocese de Tohogu (NSKK), apresentou os desafios vivenciados pela igreja após o terremoto, tsunami e similarmente do desastre nuclear em Fukushima em 2011. As pessoas perderam suas casas, especialmente na região e nas proximidades de Fukushima foram obrigadas a irem para outros locais. Desde os primeiros momentos após o terremoto e do tsunami todo o clero foi convocado para estar na linha de frente ajudando as pessoas, a igreja foi convocada para levar mantimentos e de diversas formas auxiliar as pessoas. Igualmente, apresentou como a contaminação nuclear mudou a realidade do país e as intervenções tomadas para que as áreas contaminadas fossem descontaminadas. A NSKK se levantou como uma voz profética exigindo que o governo deixe de usar energia nuclear e passe a utilizar energias renováveis.
No sábado, tivemos a oportunidade de visitar uma escola de educação infantil que fica muito perto do Oceano Pacifico e foi atingida pelo tsunami. Essa escola se tornou um museu e colocaram nela o passo a passo de como as coisas aconteceram naquele fatídico dia, desde o terremoto e o aviso da chegada do tsunami. Como a equipe escolar teve pouquíssimo tempo para retirar todas as crianças dali e as levar para um local seguro. Passamos por alguns locais em Fukushima que mesmo depois de 13 anos ainda permanecem isolados por conta da contaminação. Visitamos o espaço que ficava a Igreja de São João em Isoyama antes do tsunami, participamos de uma celebração eucarística presidida pelo Bp. Francis e terminamos o dia em Sensai.
No domingo visitamos a Catedral de Cristo, da Diocese de Tohoku, fomos muito bem recebidos pela comunidade, após o culto almoçamos em um restaurante próximo e retornamos para o ARI.
Terceira semana
Na terceira semana tivemos treinamento sobre Participatory Learnin and Action – PLA (Aprendizagem e Ação Participativa), onde fomos ensinados sobre a origem dessa ferramenta e também algumas ferramentas para melhor gestão de grupo, criação de cronograma e foi reforçado a importância de uma liderança servidora.
Passamos também por uma sessão sobre Reconciliação, com a diretora Tomoko, foi reforçado a importância de construirmos ambientes em que as pessoas possam viver em paz, unidade comunhão. Experimentamos um momento de partilha para falarmos sobre as nossas perspectivas individuais sobre reconciliação e também a importância de praticarmos aplicarmos tudo aquilo que aprendemos ao longo desses dias para criarmos um ambiente de paz e propiciar um ambiente de reconciliação.
O Conrado Piccin, representante da ACYN, nos trouxe uma apresentação sobre a rede de jovens da comunhão anglicana, o quanto era importante para nós como líderes em formação fazermos parte da rede e igualmente como podemos incentivar os jovens das nossas comunidades a serem mais ativos dentro da vida da igreja, na sociedade. Logo após essa apresentação, Paulo Ueti nos trouxe uma breve reflexão da importância e dos cuidados que precisamos ter ao falar sobre determinados assuntos quando estamos tratando sobre teologia contemporânea. Como estávamos em um ambiente aberto e receptivo, houve espaço para falarmos abertamente sobre diversos temas, todavia, em algumas situações precisamos tomar muito cuidado com a maneira como iremos tocar nos assuntos, pois as pessoas ali podem não estar receptivas ou até mesmo terem alguns problemas com a temática.
Fomos convidados a apresentarmos para todos os funcionários e participantes do ARI as nossas impressões sobre tudo o que aprendemos nas últimas semanas. Nós decidimos escolher um tema que nos foi ensinado e aplicarmos na nossa realidade local, conseguimos mostrar que tudo aquilo que tínhamos aprendido estava intimamente ligado com alguma coisa que fazíamos em nossas comunidades locais. Ao final da apresentação, foi aberto um espaço para perguntas e respondemos as mais diversas perguntas, foi muito interessante perceber como a audiência estava curiosa para saber mais sobre o que tínhamos decidido falar e a maneira como planejamos aplicar.
Nossa última sessão foi com o reverendo Andrew K. Nakamura, da NSKK, nos contando um pouco sobre a história do cristianismo no Japão, os desafios da igreja japonesa e algumas ideias que eles têm para os próximos anos.
Nessa semana ficamos responsáveis por criarmos um pequeno momento de oração após o jantar. Cada participante ficou responsável por uma noite e trouxemos para esse momento algo muito característico das nossas culturas. Foram momentos muito enriquecedores, onde tivemos a oportunidade de orar e adorar a Deus de maneiras diferentes.
No sábado depois do almoço, deixamos o ARI e fomos para Tóquio. Ficamos hospedados na Casa de Nazaré. No domingo, participamos da celebração eucarística na Saint Alban’s Anglican-Episcopal Church, uma igreja internacional, após o culto visitamos o Tokyo National Museum e tivemos um jantar com todo nosso grupo. Na segunda-feira pela manhã, junto com o gerente da casa onde estávamos reunidos, vivenciamos um período de oração a Deus. Depois fomos visitar o Meiji Shrine, um santuário belíssimo! Rodeado por muito verde, um ambiente de muita paz e recheado de cultura. À tarde, fomos às compras em Takeshita Street e terminamos o dia com um jantar de despedida.
Avaliação do bispo Maurício, da Diocese Anglicana de Brasília (DAB)
“Penso que para o Brasil essa é uma rica oportunidade de aprofundamento do empenho em priorizar ações de formação com as juventudes do Brasil. Esse edital foi oferecido amplamente, e daqui de Brasília eu incentivei e motivei o jovem Caio, membro da Catedral, a participar, pois a formação e a capacitação das juventudes também é parte dos eixos de ação dos planejamento estratégico de missão da Diocese de Brasília. Tenho uma convicção que precisamos investir em nossa juventude, especialmente para formação de lideranças que se envolvam em ações de garantias de direitos. Eu espero que essa formação que o Caio participou seja também uma oportunidade para novas lideranças serem valorizadas e sejam incluídas nas ações da nossa Igreja”, declarou o bispo diocesano.