Pronunciamento da Câmara Episcopal da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
Pronunciamento da Câmara Episcopal da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil Renúncia do Arcebispo de Cantuária Justin Welby
Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia. Mateus 5.7
Irmãs e irmãos da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, 19ª Província da Comunhão Anglicana,
Graça e Paz da parte de Deus, nosso Pai Materno, e do Senhor Jesus Cristo.
Este pronunciamento da Câmara Episcopal se dá diante a notícia que surpreendeu todas as pessoas nesta terça-feira 12 de novembro de 2024, ao lermos a carta de renúncia do Arcebispo de Cantuária, Revmo. Justin Welby. Na referida carta o Arcebispo Justin faz referência a um caso de abuso sexual, denunciado em 2013, referente aos atos praticados pelo advogado John Smyth, que como liderança leiga prestava serviços voluntários em acampamentos de verão para jovens e adolescentes. John Smyth foi acusado de abuso físico, psicológico e sexual contra mais de 100 meninos e jovens no Reino Unido e na África do Sul entre os anos 1970 e 1980. Segundo seus acusadores, o Arcebispo não teria tomado as medidas necessárias para fazer justiça a todas as pessoas abusadas, após uma década.
O Arcebispo, na carta de renúncia, afirma que acreditou que, quando a polícia tomou ciência do caso, este teria “uma resolução apropriada”, mas, diante das acusações recebidas após este período, ele assume “a responsabilidade pessoal e institucional pelo longo e retraumatizante período”. Lembra que tanto ele quanto sua esposa Caroline, trabalharam fortemente durante seu ministério para promover uma Igreja Segura e cuidar especialmente das vítimas.
O relatório independente conhecido como “Makin Review” revelou que, embora as ações de Smyth tenham sido identificadas nos anos 1980, as denúncias só foram formalmente reportadas à polícia em 2013, ano da nomeação de ++Justin Welby como Arcebispo de Cantuária. O relatório destacou falhas institucionais significativas na resposta a essas alegações, incluindo a ausência de comunicação adequada às autoridades competentes.
Entretanto, a jornalista Anne Atkins, a primeira pessoa a relatar as alegações contra o abusador John Smyth dentro da Igreja da Inglaterra, em entrevista na Rádio LBC, fez forte defesa do Arcebispo de Cantuária, Justin Welby. Para ela, Justin Welby é um “homem piedoso”, que “fez tudo certo”. Segundo Anne Atkins, a polícia local deixou de investigar quando ela denunciou o caso pela primeira vez. “Eu sei que a polícia não estava interessada” – afirmou a jornalista Anne Atkins.”
Fica bastante evidente que o Arcebispo Justin e sua família estão sob forte pressão da opinião pública, a ponto de não ter mais condições de enfrentá-las. Por isso convocamos todas as pessoas de nossa Igreja e demais pessoas amigas e companheiras de caminhada a nos unir em oração pelo Arcebispo Justin e por sua família. Reconhecemos com gratidão a importante contribuição que ele deu para nossa Comunhão e seu corajoso posicionamento em favor do respeito à unidade na diversidade e à paz diante da guerra, da violência e do genocídio.
Reconhecemos que a jornada rumo a uma igreja mais segura exige vigilância contínua e um compromisso inabalável com a verdade e a justiça do Evangelho.
Diante deste contexto, conclamamos a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil a reafirmar seu compromisso com as Boas Novas de Jesus Cristo e os votos da nossa Aliança Batismal, promovendo uma Comunidade de fé que seja verdadeiramente segura e acolhedora para todas as pessoas. É imperativo que continuemos a proclamar o Evangelho com integridade, assegurando que nossas práticas pastorais reflitam os valores de justiça, compaixão e transparência.
Seguindo o princípio da reforma “A Igreja sempre deve ser reformada”. Rogamos ao Espírito Santo, sua luz e direção para que possamos trabalhar para prevenir futuros abusos e construir uma Igreja profundamente evangélica que reflita o amor e a graça de nosso Senhor Jesus Cristo.
Convidamos toda a IEAB e as Igrejas irmãs do movimento ecumênico a se unirem em oração pelas pessoas vítimas e sobreviventes de abusos cometidos por lideranças do clero e do laicato, buscando a cura e a restauração de suas vidas. Pela Igreja da Inglaterra, para que encontrem sabedoria e força neste período de transição, reflexão, arrependimento, perdão e cura.
Oremos também pela Comunhão Anglicana e os laços de afeição que devem unir nossas diferentes províncias e dioceses, sempre fazendo de nossas relações eclesiais espaços de promoção da vida, da dignidade humana, do respeito à diversidade, de justiça e da paz.
12 de novembro de 2024.
Câmara Episcopal Igreja Episcopal Anglicana do Brasil