Advento 2021 – Palavra do Primaz, bispo Naudal Alves Gomes
“levantem-se e ergam a cabeça, porque a libertação de vocês se aproxima.” (Lc 21.28b) “farei brotar um broto justo, que exercerá o direito e a justiça no país.” (Jr 33.15.b)
No contexto dos 21 dias de mobilização pela superação da violência contra as mulheres, que a IEAB está bem envolvida, temos datas e celebrações significativas em nosso calendário como: o Dia da Consciência Negra, a Campanha do Laço Branco e o dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Somos convidadas/os a vivenciar mais uma vez o tempo de Advento.
O tempo do Advento assinala o início do Ano Cristão, estação esta breve, que busca nos preparar para outro evento maior e mais extraordinário, a celebração da festa do Amor de Deus encarnado. O Deus de amor que se fez humanidade e habita entre, e em nós.
Toda celebração ocorre num determinado tempo histórico e num contexto próprio e dele não pode ser separado. Envolverá nosso contexto pessoal, físico, emocional, espiritual. Bem como, nosso contexto familiar e comunitário. Da mesma forma o contexto social, econômico e político do tempo presente.
O contexto pessoal aponta para uma experiência de fragilidade, de tristeza e morte. Todo ser humano está profundamente atingido pela morte de mais de 600 mil pessoas, somos uma coletividade, tudo atinge a todos de alguma forma. O contexto comunitário sofreu também seu abalo com o distanciamento social.
O contexto social, econômico e político é desalentador. Aumento da concentração de renda, aumento do número de pessoas literalmente passando fome (praticamente 20 milhões de brasileiras), aumento da violência, especialmente de gênero, étnica, religiosa e econômica. A falta de políticas públicas duradouras, permanentes, em vista da superação dessas violências, são praticamente inexistentes.
Contudo, em que pese essa realidade, há uma grande reação de indivíduos, comunidades e coletivos, mobilizados a partir da fé ou não, buscando minimizar o impacto dos efeitos de violência, morte e desemprego, agindo de forma solidária e com empatia. Em todo lugar desse nosso amado país vemos pessoas, comunidades e coletivos mobilizados agindo com esperança, partilhando “o pão nosso de cada dia” e organizando famílias e comunidades para que exerçam sua cidadania, buscando “transformar as estruturas injustas de nossa sociedade”. São atitudes de verdadeiros profetas e profetizas, que anunciam que uma nova realidade é possível e denunciam que do jeito que está, não é mais possível continuar.
Destaco dois versículos, do primeiro domingo do Advento, para iluminar este período tão salutar de preparação para a festa da Natividade de N. S. Jesus Cristo, a Festa do Amor de Deus encarnado, o Deus-Emanuel, Deus Conosco.
O primeiro, vem do Evangelho de Lucas, 21.28b “levantem-se e ergam a cabeça, porque a libertação de vocês se aproxima”. Desejo que seja compreendido para nós, pessoas cristãs, como um imperativo, uma ordem. Este Advento será tempo de levantar a cabeça e erguer-se. Percebo que esse tempo já começou, graças a Deus.
O segundo, “farei brotar um broto justo, que exercerá a justiça e o direito no país” (Jeremias 33.15b). Agarremo-nos a essa promessa de Deus, oremos e atuemos para que o Advento nos fortaleça e anime para trabalharmos incansavelmente para que essa promessa se realize. Estejamos atentos pois não é qualquer “broto” que será um “broto justo”, que “brotará” entre nós “para exercer a justiça e o direito no país”. Não esqueçamos que se trata da justiça do Reino de Deus e do direito, também do Reino, que promove vida e dignidade para todas igualmente.
Levantemo-nos, ergamos nossas cabeças pois é tempo de Advento, tempo de esperança, andemos com alegria pois o enviado de Deus virá, ele é justo e exercerá o direito e a justiça, e um novo tempo será inaugurado.